Travel Diaries - El Bierzo (5 Days)
Dia 1
A chuva cai enquanto avançamos em direcção a Norte. Sem bússola,
seguimos o instinto que nos transporta até cada vez mais perto
do destino.
Serras elevam-se dando prova, como se necessário fosse, da nossa
pequenês. Olho-as e maravilho-me com a sua presença imponente
e mística entre o nevoeiro chuvoso.
Subimos em direcção às nuvens que nos recebem e afagam de braços
abertos. Que confortável me sinto rodeado por névoa húmida
que partilha a sua melancolia com os viajantes...
Descida para entrar em Espanha através da Galiza, sempre acompanhados
pela chuva que nos guia até à zona de El Bierzo.
À chegada, encontro imediato com as Médulas (as impressionantes
montanhas vermelhas que dominam a paisagem) que me deixam tomar
pouca atenção ao hotel Medulio e tudo o resto
Depois de termos sido recebidos no hotel por Isaac,
seguimos caminho para os quartos de forma a guardar a bagagem e
digerir a viagem de sete horas de carro.
Surpreendentemente, pelo menos para mim, a vista da varanda
do quarto conquistou-me: alguns picos das Médulas furando nuvens
baixas mas sem conseguir impedir a constante chuva...
Após maravilhar-me com a vista, foi necessário voltar à recepção
para o encontro com o grupo e também com o empregado sempre
presente Isaac.
Dia 2
Após noite produtiva com pensamentos sobre as montanhas, há
pequeno almoço a tomar, servido, como seria de esperar, por
Isaac.
Seguimos viagem a pé e debaixo de chuva sempre constante em
direcção ao topo das montanhas. No entanto o caminho torna-se
bem mais surpreendente do que seria de esperar: bosque de castanheiros
gigantes e frondosos cumprimentam-me e, apesar de não os entender,
sinto no ar as suas vozes a ecoar no musgo e nas pequenas rochas,
tal como Ents numa reunião. Pela forma como ocupam o lugar,
nunca imaginaria que tinham sido trazidos para aqui pelos romanos...
Que colonização perfeita.
Os fetos e os lismos também por aqui se encontram numa relação
de, digamos, simbiose com os dominadores castanheiros.
Ao sair da floresta de castanheiros, percebo também a sua atitude
protectora para comigo: impedindo-me de ser atacado pelo vento
e pela chuva que agora, no topo da montanha, me fustigam.
A vista panorâmica para as Médulas torna-se mágica quando me
abeiro do Miradouro de Orellan - as rochas vermelhas rasgam a
floresta de castanheiros apontando, com ar de desafio, para o céu
nublado, que as ataca com chuva.
Torna-se quase inacreditável perceber que esta paisagem foi
em grande parte criada pela ganância do ser humano!
Todos estes picos vermelhos são o que resta de uma única montanha
da mesma cor, destruída pelos romanos em busca de ouro!
Esta "destruição", imposta pela Ruina Montium (uma técnica muito
engenhosa), durou cerca de 250 anos e começou aproximadamente no ano
25 A.C. quando o imperador Augusto conquistou esta zona da Península
Ibérica. A Ruina Montium consiste, de forma muito simplificada,
em escavar um número bastante grande de galerias em sítios chave
da montanha e, depois, despejar enormes quantidades de água,
desde zonas altas, para dentro destas escavações. Desta maneira,
a montanha colapsava e bastava então procurar pelo ouro nos restos
da montanha que eram transportados pela água.
Após algum tempo passado em Orellan congratulando-me com a paisagem
e investigando a história do local, chegou a altura de prosseguir
a caminhada, desta vez em direcção às grutas. Depois da conversa
não ter sido conseguida com os Ents, fiquei um pouco apreensivo
nesta incursão pelo reino dos anões...
Uma gruta húmida, escura e escorregadia acolhe-nos com o seu
hálito refrescante. Após umas centenas de metros,
caminhando de forma encolhida cada vez mais para o interior da gruta,
avistamos luz que serve de bússola até novo miradouro, um pouco
mais baixo que o anterior, mas com uma vista não menos apelativa.
Os castanheiros frondosos e os picos vermelhos continuam desafiando
o céu que encara o desafio libertando chuva...
Saímos da gruta para atendermos o chamamento do nosso estômago e dirigimo-nos ao hotel para um almoço restaurador de forças.
Durante a tarde, resolvemos voltar a atravessar o bosque de
castanheiros que nos afaga novamente protegendo-nos dos efeitos
nefastos da chuva que teima em cair.
Passo algum tempo explorando os fetos, tal como os líquenes
que vivem abraçados aos ramos dos castanheiros, enquanto vagueio
pelo belo bosque.
Sem me dar conta do tempo passar, avisto finalmente a base das
Médulas que se elevam, sem medo, no meio do bosque. Apalpo a
parede húmida e apercebo-me de todas as cicatrizes causadas
pelo tempo e pela chuva.
Ignorando as pedras caídas, continuo a caminhar pé ante pé
até avistar um buraco gigante na parede rugosa: Cueva Grande.
Tentando evitar a lama, mas sem grande sucesso, penetro na Cueva
e sinto-me, finalmente, parte deste grande "ser vivo".
Vejo nas placas indicativas que existe ainda outra Cueva, esta denominada La Encantada, por isso dirijo-me, encurralado entre as árvores e as Médulas, na sua direcção. Para surpresa minha, o caminho encontra-se bloqueado por uma derrocada de tamanho significativo de pedras... Um pouco inconscientemente, contorno as pedras por dentro do bosque e prossigo o caminho. Porém, ao chegar e entrar na La Encantada o efeito sentido na primeira Cueva esvaneceu-se...
Ao fim da tarde, durante o regresso ao hotel, houve ainda tempo para explorar a pequena aldeia - entenda-se roubar cerejas e fotografar a pequena igreja - e visitar o posto de turismo onde fomos presenteados com vídeos explicativos da técnica Ruina Montium utilizada pelos Romanos.
Para jantar, desta vez resolvemos dirigirmo-nos ao restaurante "O Palleiro" na aldeia vizinha de Ollerán. E ainda bem que o fizemos, pois o ambiente típico e antigo do restaurante é fantástico, tal como a sua comida - carne de corso com aguardente e mel no meu caso.
Dia 3, 4 e 5 em breve...